Produção e Realização Artística

Produção e Realização Artística
Produção e Realização Artística: Programa de Pós-Graduação em Artes, Instituto das Artes da Universidade de Brasília - Prof. Marcus Mota

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Registro de Ensaios de 17, 24,31 de Maio e 7 de Junho


17/05/17


Faltou a luz, impossível trabalhar com os instrumentos. Falámos sobre a parte final da peça e idealizámos uma nova cena, experimentando a possibilidade de Erica tocar no piano após a interrupção abrupta no final da secção “Corpos colados”. Falámos sobre a exploração do pedal nas minhas mãos, na construção de uma narrativa sonora em que pudesse determinar a sustentação dos sons. No ensaio seguinte, em 24/05, ensaiámos a sequência total incluindo este novo final.



24/05/17


 Vídeo disponível em: https://vimeo.com/219401539. Senha: <heraclito>.



Sem registro escrito




07/06/17

Vídeo disponível em: https://vimeo.com/220988984. Senha: <heraclito>.




No dia 31 de Maio fizemos um ensaio, cuja principal novidade foi a criação de um novo final para a peça. No vídeo de dia 24/05 podemos ver a experiencia feita com a exploração do pedal do piano. A pobreza do conteúdo expressivo que dela resultou levou-me a imaginar outro desenvolvimento a partir do gesto de queda da minha cabeça sobre o teclado que aconteceu naturalmente nesse ensaio, após a interrupção da dança esquizofrênica de Erica. Criei um sample com um som contínuo construído a partir de vozes humanas e produzindo um ciclo repetitivo em duas notas sobre um pedal harmônico estável, de modo a acolher a performance pianista de Erica apenas nas notas pretas do piano- permitindo criar um discurso controlado harmonicamente na mão esquerda. A mão direita irá segurar a minha cabeça pelos cabelos e usá-la para produzir pontuações cadenciais na zona mais aguda do teclado, como conclusão das frases languidas lançadas pela mão esquerda. A minha mão direita, atravessando os teclados, toca no sampler o referido som contínuo, criando um ambiente etéreo como contraponto à agitação provocada pelo momento anterior. A peça conclui-se com a cena dos arpejos, em que o movimento pendular dos corpos remete para o início da peça, após o que que regressamos à nossa posição hierática inicial, retomando a gravação do fragmento 45. Este material pode ser visto no vídeo do ensaio de 07/06.

Notas e correções a realizar:

·         Gravação do fragmento 45: aperfeiçoar a instrumentação
·         Substituir todos os sons eletrônicos por derivados das ressonâncias do piano.

1 - Inicio
·         Posição dos corpos inicial – trabalhar a palindromia (queda maior sobre o teclado no momento de maior afastamento do outro)
·         Posição da perna direita de Erica replicando a minha. Ou decidir como as pernas ficam no ar nesse momento (?)

2 – Distancia
·         Na segunda frase, aproveitar a ida com o rosto ao teclado, aumentando a distância em relação à postura ereta da Erica – aumentar a duração desse momento. Desfazer essa tensão quando eu regresso ao movimento espontâneo.
·         Na terceira fase, experimentar com Erica ela tentar tocar também no meu teclado, antes de agarrar o meu braço.

3 – Encontro
·         Tentar prosseguir o fraseado na mão direita mais em função do movimento dos dedos de Erica ao longo do meu braço – sentir as suas mãos no meu braço
·         Inclinar-me um pouco mais para ela, para ficarmos em posições mais paralelas.
·         No momento de afastamento, recolhermos ambos a perna esquerda.

4-Desafio boca de peixe
·         Estudar a ação do corpo (pernas?) que acompanha as bocas de peixe~

5 - Morte e Vida implicadas
·         Dar mais tempo a Erica para se curvar sobre o seu teclado. Ouvir a ressonância dos clusters

6 - Atrito
·         A subida de Erica ao céu mais minimal. Uma força magnética que vem do alto e que se digladia com a atração gravítica. Sem movimentos laterais nem mudanças de posição. Uma espécie de descarga elétrica. Bicos de pés.

7 – Aproximação
·         Quando iniciar as notas graves, demorar mais tempo até o trabalho de Erica começar a movimentar-me. Só então pensar num fraseado. Até então, enfatizar o movimento dos dedos que tocam as notas graves.
·         Ajudar esse movimento caminhando com a mão para a região média e aguda, à medida que vai sendo possível.

8 – Corpos colados
·         Manter a lentidão durante mais tempo. Deixar respirar os momentos cadenciais. Este é o momento de paz total. Total harmonia.

9 – Renuncia
·         Erica: sentir a intensidade das notas produzidas pela minha cabeça. Quanto mais intensa, mais tempo deve ressoar antes de começar cada frase. Jogar com o número de notas/cabeça (8) em sequência. 1 -2 -1 -3 – 5 -2 -1-3
·         Ao largar a minha cabeça, sacudir as mãos, antes de regressar ao lugar lentamente.


Tabela de Samples Giant Piano


SAMPLE
AÇÃO
NOTA
Giant 1
Nota inicial 1
C 2
Giant 2
Nota inicial 2
D 2
Giant 3
Nota inicial 3
E 2
Giant 4
Reação ao Sacudir das mãos 1
Eb 2
Giant 5
Reação ao Sacudir das mãos 2
F 2
Giant 6
Atrito nos braços
Bb 3
Giant 7
Tremolos Boca de Peixe 1
F# 2
Giant 8
Tremolos Boca de Peixe 2
G# 2
Giant 9
Tremolos Boca de Peixe 3
A# 2
Giant 10
Tremolos Boca de Peixe 4 (curto)
C# 3
Giant 11
Tremolos Boca de Peixe 5 (longo)
D# 3
Giant 12
Tocar o Céu (glissando)
F# 3
Giant 13
Resposta aos arpejos finais 1
C 4
Giant 14
Resposta aos arpejos finais 2
B 3
Giant 15
Resposta aos arpejos finais 3
A 3
Giant 16
Resposta aos arpejos finais 4
G 3
Giant 17
Cama de Erica
C# 2

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Guião Diagramático Vrs. 3

No último ensaio não foi possível registrar o trabalho em vídeo devido a corte de energia. 
Porém avançou-se com novas possibilidades de desenvolvimento dramatúrgico.
Abaixo, o guião atualizado.

CENA
AÇÔES
PARTITURA DUAL
COEFICIENTE DE UMIDADE
CONCEITO
FRAGMENTOS
ÉPOCA
0 - Epígrafe
Posição estática a partir de iconografia arcaica
Fragmento 45




1-Início
Corpos afastados do teclado. Braços longos executam, alternadamente, três notas isoladas. As faces nunca se encaram.
Pequenos gestos interpelam um silencio fundamental. Ciclos repetitivos autônomos e espaçados nos dois teclados.
Seco
Isolamento dos personagens em relação ao outro. Autossuficiência e independência.
Sabedoria e excelência simplesmente são a condição seca da psique (Khan, 2009, pp. 382-396).
Sem tempo
2-Encontro
No piano, as notas isoladas dão lugar a três ou quatro frases musicais de intensidade crescente, terminando com o gesto de sacudir as mãos. Erica reage às frases e aos gestos com o ânimo do corpo. Ao terceiro (ou quarto) sacudir das mão, ela captura o meu braço esquerdo. No piano continua o discurso, na região aguda, com o braço direito livre, enquanto Erica vai caminhando pelo outro braço até atingir o ombro. Quando os dois braços estão colados, as faces encaram-se. Silencio durante uns segundos. Os corpos, verticais, vão-se então afastando lentamente, as mãos escorregando no braço do outro até ficarem ligados apenas pela ponta dos dedos. O momento de desligamento é assinalado pela repetição no piano da nota inicial.
Silencio.

Surpresa pela presença do outro – súbita consciência do presente.

Hoje
3-Desafio
As cabeças inclinam-se ligeiramente para trás, com bocas de peixe, regressando depois à posição de encarar o outro.
Cada movimento aciona objetos musicais iterativos –tremolos no piano, tremores reverberantes no sampler.
Jactos de Vapores que alternam entre os personagens
Evocação dos desencontros históricos.
Heráclito sugere que a ilimitacao da alma está intimamente relacionada tanto com o mistério da morte quanto com noções de ordem cósmica e castigo pessoal aplicado em retribuição a uma má ação.
Dantes
4-Morte
Queda do corpo sobre o teclado. O som do piano dá origem a uma lenta aproximação de Erica à posição de recolhimento, que será replicada nos clusters seguintes.
Cluster 1
Imersão oceânica.
Regresso ao abismo individual.
[...]que o poder da psique de aumentar a si mesma é parte do que se quer dizer com o "logos profundo" da alma em XXXV (D. 45), e
Agora
5-Vidas implicadas
Agitação lenta e divergente dos corpos: queda abrupta sobre o piano que origina movimento de ressalto rápido de Erica, seguido de regresso lento à posição de recolhimento. Isto acontece mais três vezes.
Clusters 2, 3 e 4 de corpo dele no piano.
Evaporação e criação de grumos terrosos.
Argumentação divergente
2) que essa força de auto expansão é manifesta na exalação ou transformação da água aquecida em vapor [...] (Khan, 2009, p. 369).
Futuro
6-Atrito
Ao quinto Cluster - Corpo dele na terra, corpo dela no ar, em tensão trepidante ou espasmódica na direção do céu.
Movimento ondulatório no piano com a elevação desfasada dos ombros, gerando 3 sucessões alternadas de clusters graves e agudos.
Na quarta, um dos braços cai, deixando sobre o teclado a cabeça e o braço direito.
Cluster 5.
Insistência no mesmo objeto sónico no sampler,
Sucessões alternadas de clusters graves e agudos. Grande intensidade.
Processo de fusão da terra, risco de morte
Ciclo vicioso
[...] ainda que a vida-sopro possa ser seca e quente e cheia de luz, talvez ela não possa ser inflamada como fogo celestial sem "morrer", sem deixar de ser a psique propriamente dita.
Início dos tempos
7 - Queda
Um último movimento dos ombros lança o corpo para o chão, ao mesmo tempo que a mão direita cria um novo cluster. Já no chão, um segundo cluster suga a energia de Erica, que se por sua vez também cai no chão. Os dois jazem imóveis, por momentos.
Ressonancia do último cluster.

Derrota

Fim do mundo
8 - Aproximação
Arrastando-se pelo chão, Erica dá início a uma aproximação lenta. Com o seu corpo começa a elevar-me lentamente até me deixar novamente sentado.
A mão que ficou sobre o teclado inicia uma melodia que acompanha a aproximação de Erica.

Determinação

Princípio do Mundo
9 – Corpos colados
Erica posiciona-se sobre as minhas costas colocando seus braços sobre os meus.  A cada impulso dos meus braços Erica vai-se separando dessa posição. À medida que o fraseado se vai transformando numa vertigem percussiva, o seu movimento vai ficando frenético.
Finalmente ela joga as duas mãos na zona mais grave do piano, interrompendo subitamente o desvario.
Fraseado com momentos cadenciais de acordes que provocam a elevação dos dois braços. Esse fraseado vai ficando progressivamente mais frenético e percussivo.




10 - Renuncia
Erica inicia a sua performance musical.
Om olhos dele no chão, levam ao movimento de pegar o pedal. Segue-se um afastamento físico até ao limite do tamanho do cabo do pedal - até deixar de o pressionar e as notas de Erica ficarem desligadas novamente, ela puxa o cabo lentamente para si, arrastando o meu corpo. Segurando a minha mão, tira-me o pedal. Eu toco notas soltas e a cada nota, ela afrouxa a pressão no cabo, de modo que o pedal vai caindo por pequenos impulsos, até tombar no chão. Ambos descemos lentamente para o reposicionar. Sempre com a minha mão na sua, Erica regressa à sua posição no teclado. As mãos separam-se finalmente.
Música tocada por Erica nas notas pretas do piano.




11-Libertação
Movimento pendular em relação ao teclado. As cabeças,a cada arpejo, vão-se aproximando. No quarto arpejo juntam-se as testas.
Arpejos etéreos no piano de frequência progressivamente mais esparsa. Arpejos sónicos em espelho no sampler
Condensação, liquidez e fluxo
Harmonia possível
Para Heráclito, assim como para Espinosa, esta experiencia da eternidade, longe de ser uma questão de sobrevivência pessoal, consiste exatamente na superação de tudo o que e pessoal, parcial e particular, no reconhecimento e plena aceitação do que e comum a todos (Khan, 2009, pp. 382-396).
Eternidade
12 - Epílogo
Regresso a posição estática a partir de iconografia arcaica            
Fragmento 45